Gena, uma lenda do futebol pernambucano


A publicação digital acima, que foi ao ar no Portal OP9, tinha o propósito de homenagear um atleta que marcou a história do futebol do estado: Gena, lateral multicampeão com a camisa do Santa Cruz e do Náutico, onde foi referência no hexacampeonato estadual que representa o ápice da história do clube. Para mim, as horas entre a notícia da morte dele e a postagem desse material no site foram de certa apreensão.

Como praticamente todo o registro fotográfico de Gena estava (e ainda está) no acervo do então concorrente Diario, foi a primeira ocasião profissional em que eu me deparei com a necessidade de “ilustrar algo” para acompanhar a luxuosa crônica do amigo José Gustavo. No fim, a nossa opção foi por usar esse “storytelling ilustrado” de maneira complementar ao texto, contando um pouco mais da história de vida desse jogador lendário.

Para folhear o material em tela inteira, basta clicar no ícone abaixo, no canto superior direito.

Abaixo, a crônica:

Ele nasceu e se criou no bairro de Santo Amaro. Com nítidos traços de índio no rosto, na pele e no cabelo acabou se transformando em um dos maiores personagens da história do futebol pernambucano. Não tive o prazer de ver o Sr. Genival Costa de Barros Lima, carinhosamente apelidado de Gena pela família, jogar bola. Mas cresci ouvindo as histórias do meu pai. Entre elas me fascinava a conquista do Pentacampeonato Pernambucano do Santa Cruz.

Torcedor coral, Seu Inácio tinha em mim — seu filho caçula –, um ouvinte atento das façanhas de um tal Gena. “Não me lembro de um lateral tão afoito como ele”, dizia. Porém, um ponto me chamava a atenção. Sempre que ele tocava no nome de Gena fazia questão de lembrar a participação do ex-jogador — falecido na última segunda-feira (12), em decorrência de uma infecção no abdômen, aos 75 anos –, na célebre conquista do Hexacampeonato do Náutico. “Já imaginou um jogador participar ativamente da conquista de 11 campeonatos? de forma consecutiva?”, questionava meu pai. De mãos dadas com ele pela Avenida Beberibe, no caminho para o Estádio do Arruda, eu ficava pensando no grande feito. Ainda hoje é difícil dimensionar.

Gena foi multicampeão. Um atleta quase perfeito. Não só pela quantidade de títulos conquistados em sequência — jogando, diga-se de passagem –, mas por ser um inovador no setor em que atuava. Em 1963, quando veio o primeiro troféu da sequência de seis do Timbu, ele era considerado “louco” por alguns torcedores. Era sua característica avançar ao ataque constantemente.

Seria quase uma irresponsabilidade abandonar a lateral-direita para chegar como homem surpresa na frente e finalizar contra o gol adversário. Lateral era para marcar. Não existia e nem se falava em ala-direito. Gena já mostrava que estava acima do seu tempo. Chegou a ser comparado com Djalma Santos, outro monstro da posição de lateral e que vestiu a camisa da Seleção Brasileira nos títulos de 1958 e 1962. O companheiro jornalista Lenivaldo Aragão lembrou que ele chegou a ser negociado com o Botafogo, mas o Náutico não aceitou a negociação.

Completamente identificado com o Náutico, ele surpreendeu ao se transferir para o rival Santa Cruz. No Arruda, ajudou diretamente na sequência de maior quantidade de títulos consecutivos do clube no Estadual. Virou ídolo também coral. Marrento e consciente de sua qualidade técnica, chegou a recusar um convite para ir jogar no Corinthians. O motivo: teria que passar por um teste. Por outro lado, recebeu o honroso prêmio Belfort Duarte, dado pela então CBD — hoje CBF –, que homenageava jogadores que ficassem dez anos ou 200 jogos sem ser expulso.

Sua humildade também era cativante. De sorriso fácil, Gena cultivava boas amizades. Eu tive o prazer de entrevistá-lo algumas vezes. Poucas, mas foi um privilégio. Ainda de olhos brilhando, diante de um ídolo que não vi jogar, mas conheci através de belas histórias e de feitos maravilhosos para um jogador que saiu de Santo Amaro para entrar na história do futebol pernambucano.

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