Arte que se renova a cada carnaval


Bonequeiros estão antenados aos temas atuais e a novas tecnologias de produção
Texto originalmente publicado em 9 de fevereiro de 2017, na Folha de Pernambuco

Entre aqueles que se encarregam de manter viva a cultura dos bonecos gigantes, uma das marcas registradas do Carnaval de Pernambuco aos olhos do mundo, a modernização é uma preocupação constante. Da escolha dos personagens ao material utilizado na criação das peças, a renovação se faz presente no trabalho desses bonequeiros. E, no que diz respeito à abrangência temática, é difícil concorrer com Leandro Castro, responsável pela Embaixada dos Bonecos Gigantes de Olinda. Está sempre tentando abordar os assuntos do momento, ao mesmo tempo em que continua representando grandes ícones da cultura regional, nomes da política e do esporte. A irreverência, garante, é a mesma para todos, seja representando o cantor Alceu Valença ou presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“A gente está com 28 bonecos gigantes novos para o carnaval. Tem (Michel) Temer, James Brown, Wesley Safadão, Professor Raimundo (personagem de Chico Anysio), Donald Trump, a Estátua da Liberdade… nos modernizamos utilizando temas atuais e relevantes na sociedade”. Ele diz, no entanto, que não vai levar às ruas alguns personagens mais relacionados à política nacional. “O desfile é muito caracterizado pela adesão de famílias e crianças, e como está muito polarizada essa questão, a gente quer evitar qualquer coisa. Seria temerário”, afirma.

Sílvio Botelho, por sua vez, aposta nos personagens culturais, exclusivamente. Pioneiro no ofício de confeccionar os bonecos gigantes, ele tem um ateliê na Rua do Amparo, no sítio histórico de Olinda. Ele foi o responsável pela criação, em 1974, do Menino da Tarde, terceiro boneco produzido na cidade monumento. Hoje, já são mais de mil circulando pelas ladeiras durante o Carnaval.

Como sua produção se restringe a figuras do meio cultural, suas maiores inovações foram tecnológicas. Começou confeccionando bonecos de mais de 40kg, mas hoje, graças às fibras de vidro e bananeira, seus bonecos chegam a pesar 13kg. “A gente tinha um trabalho muito rudimentar, os bonecos eram de papel. Eu conheci um rapaz que podia fazer o trabalho em fibra, gostei da ideia e fiz a peça. Enquanto eu levava 30 dias para fazer um boneco, ele fazia três em um dia”, conta.

O trabalho de Sílvio não se limita, no entanto, a transformar a fibra em bonecos. Ele também transforma meninos em profissionais e cidadãos. Em seus mais de 40 anos de atuação, transmitiu a muitos jovens o seu ofício. “Eu tenho a responsabilidade de contribuir para a cultura desse estado, de ensinar o melhor e educar muitos. Alguns ficam com raiva, mas amanhã eles vêm dizer que eu tinha razão. É minha responsabilidade enquanto produtor cultural, artista e carnavalesco”, avalia.

Um desses educandos é Gabriel Nascimento, de 18 anos. Trabalhando na oficina de Sílvio desde os quatro anos, ele já criou um boneco para o seu próprio bloco – o Garoto Travesso – e se sente recompensado quando vê os frutos de sua produção. “Tenho orgulho. A gente vê na televisão, na internet, o pessoal tirando foto”, afirma, sem disfarçar o brilho nos olhos.

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